30 junho, 2009

Candidatura do Fado a Património da Humanidade

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No dia 30 de Junho, no Museu do Fado, decorreu a apresentação dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do projecto de Candidatura do Fado à Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da Humanidade, da UNESCO. Veja aqui a reportagem video da apresentação

A sessão foi aberta pelo presidente do Conselho de Administração da EGEAC (a empresa municipal responsável pela gestão deste e de outros espaços culturais da cidade), Miguel Honrado, que instou o público a visitar o Museu do Fado, ao Largo do Chafariz de Dentro, em Alfama, inteiramente remodelado em 2008 e dotado de um novo modelo expositivo. Referindo-se ao projecto que arrastou várias dezenas de pessoas ao Museu, incluindo muita gente ligada ao Fado, Miguel Honrado salientou o trabalho multidisciplinar que vem sendo desenvolvido em colaboração com a Universidade Nova de Lisboa e agradeceu o apoio que o Ministério da Cultura tem dado ao processo conducente à apresentação da candidatura. Porque, afinal, “fomos do Fado, dele somos e dele seremos”, concluiu Miguel Honrado.

Sobre os trabalhos da candidatura, intervieram Clara Freyão Camacho, do Instituto de Museus e Conservação, que se referiu à abordagem feita ao Património Cultural Imaterial por essa instituição, bem como ao modo como através dela se processa o apoio a esta candidatura; Ruy Vieira Nery, da Comissão Científica da Candidatura, que traçou o historial de todo o processo e sintetizou as bases sobre as quais assenta; Sara Pereira, responsável pelo Museu do Fado, que falou sobre as “Perspectivas de Musealização, Iconografia e Iconologia do Fado”; Pedro Félix, da Universidade Nova de Lisboa, que discorreu sobre o “Património Discográfico do Fado”; e Paulo Lima, um antropólogo membro da Comissão Executiva da Candidatura, que apresentou uma base de dados que vem desenvolvendo sobre o Património Cultural Imaterial.

Finalmente, Carlos do Carmo, personalidade bem conhecida do mundo do Fado, que integra a Comissão Consultiva da Candidatura e foi um dos que impulsionaram a criação do Museu, discorreu sobre a história do Fado nas últimas décadas, a fundação do Museu e os passos que vêm sendo dados para a revitalização desta forma de expressão artística da cidade e para a apresentação da candidatura. Depois de se referir às inevitáveis transformações que o Fado sofreu, à semelhança do que aconteceu com toda a sociedade, na passagem da ditadura para a democracia, o artista constatou com satistação que “nos últimos dez anos surgiu uma geração que canta muito bem e toca muito bem”.

Sobre o processo iniciado com a criação do Museu do Fado e que culmina no trabalho desenvolvido para a apresentação da candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial, Carlos do Carmo lembrou as dificuldades iniciais para criar o Museu, finalmente resolvidas no período de responsabilidade autárquica de João Soares, a fase inicial de desconfiança dos fadistas em relação ao Museu, e as dificuldades de financiamento do filme “Fados”, de Carlos Saura – uma das peças cruciais da candidatura -, ultrapassadas com o apoio concedido pela autarquia pelo empenho pessoal do então presidente, Carmona Rodrigues. Quanto aos trabalhos para a candidatura, o conhecido artista revelou que “as pessoas da UNESCO, em Paris, têm um grande entusiasmo por este processo” e agradeceu, entre elogios, à equipa que vem desenvolvendo os trabalhos, na pessoa da “dinâmica” responsável do Museu, Sara Pereira. A concluir, Carlos do Carmo, pediu ao presidente da Câmara, António Costa (um dos atentos ouvintes da sessão), “ajuda para, com o seu peso institucional, se superarem as dificuldades burocráticas nos organismos oficiais”.

Foi, precisamente, António Costa quem, após um período de debate, encerrou a sessão, congratulando-se, à semelhança de Rui Vieira Nery,com o facto de que “só com o que já se fez, independentemente dos resultados da candidatura, já houve uma grande conquista para o Fado”. O autarca sublinhou que “o que permite afirmar uma cidade neste mundo globalizado é o que ela tem de diferente” e, no caso de Lisboa, “dois produtos culturais ganharam universalidade: Fernando Pessoa e o Fado”. Constatando que o Fado não é apenas a canção, mas todo o ambiente que o gera, a começar no panorama do anfiteatro do estuário do Tejo e nas colinas onde se anicham os bairros e as ruas da cidade, António Costa revelou que vai ser iniciada uma intervenção de reabilitação no bairro da Mouraria, resultado de uma candidatura aos fundos do CREN, começando precisamente por emblemáticos lugares da mitologia fadista: a Rua do Capelão e a casa da Severa. Para o edil lisboeta, “a valorização internacional do Fado é da maior importância e a grande oportunidade para Lisboa figurar na lista de Património da Humanidade”. António Costa encerrou a sessão com uma certeza: “o Fado está para lavar e durar”.

No início, no intervalo e após a sessão, os participantes puderam assistir a actuações de, entre outros, Joana Amendoeira, um tributo à guitarra com o guitarrista Ricardo Pereira e seus acompanhantes, bem como uma participação especial de Carlos do Carmo, Argentina Santos e Carminho.