Ângelo Freire
« Pôr o fado no centro. É uma ousada missão a que os mais veneráveis e raros fadistas não souberam escapar. Ângelo Freire não é exceção, e carrega neste seu disco de estreia a responsabilidade de empurrar com o talento a história do fado para o presente e, assim, sem pretensão de o ser, torna-se excecional. Porque não é todos os dias que a queda natural para a música amadurece com esmero na mesma barrica do tempo, este disco é uma obra que revela a inteireza do artista, que é, por natureza, livre. Abraça a dádiva da tradição recusando fundamentalismos e aceita com humildade o passado, alimentando-se dele, do mesmo modo que arrisca novas composições, musicais e literárias.
E ainda que cada disco seja uma aventura do destino de cada um, e talvez seja por isso que Ângelo Freire decidiu contribuir brilhantemente, de sensibilidade musical na ponta do nariz e vocação nos dedos, com guitarra portuguesa, viola, voz e produção, cada disco, e este em particular, é também uma emersão conjunta de muitas coisas numa coisa só: a música. Sem regras, gavetas ou insuficientes adjetivações. A poesia popular e erudita (Saramago, por exemplo, é um dos poetas cantados), a mais antiga ou contemporânea, a introdução de novos fados com a matriz tradicional e novos poetas podem cantar em simultâneo, sem fronteiras ou limites.
Ângelo Freire, antes de começar, curvou-se diante da beleza. E assim sobressaiu num aguardado tratado musical.
Bravo, missão cumprida! »
Francisco Guimarães
Lançamento: Novembro de 2023